Comentário(s) - 0
31/07/2011 - 08:00
A desastrosa reintegração de posse realizada no dia 5 de julho, na antiga Favela da Família, evidenciou uma triste realidade ribeirão-pretana: seres humanos, às margens da sociedade, passam despercebidos pelos políticos - ou pelas políticas públicas. (Veja fotos da reintegração de posse)
Para o juiz aposentado e idealizador do Programa Moradia Legal João Gandini, falta um planejamento habitacional. Remover famílias e deixá-las em apartamentos não resolve o problema. “Nós estamos enxugando gelo”, afirma. Segundo ele, em 2007, eram 34 favelas e 19.500 moradores. Os números, quatro anos depois, cresceram: 10 novas favelas surgiram e a população cresceu para 23 mil.
De acordo com Gandini, o surgimento de novas favelas é uma realidade em todo o mundo, principalmente nos países emergentes. A exemplo de outros grandes centros, o município de Ribeirão Preto é urbanizado e oferece serviços como emprego, saúde e educação – o que acaba atraindo pessoas de diversas regiões de todo o país.
Sem uma política habitacional, das organizações de bairro à presidência da República, evitar o surgimento de novas favelas é praticamente impossível.
Entrevista: idealizador do Programa Moradia Legal e juiz aposentado João Gandini.
Perfil dos moradores
A favela é um espaço democrático, formada por pessoas que não tiveram uma opção melhor de moradia. De acordo com o juiz aposentado João Gandini, as comunidades integram, desde ribeirão-pretanos que não conseguem pagar um aluguel, a moradores do norte e nordeste, que chegam à cidade a procura de emprego.
Políticas públicas
Segundo João Gandini, não há uma política habitacional em Ribeirão Preto. Existem, sim, “remendos”. Existem tentativas, porém, a tendência é de que não existam melhorias para essas famílias. “A pobreza se auto-alimenta”, afirmou Gandini.
Expansão das favelas
Ribeirão ganhou dez favelas em menos de quatro anos. O número de favelados também cresceu: eram 19.500 em 2007; hoje, são 23 mil. Gandini lembra que muitas favelas estão acabando, porém, ele faz um alerta: “Muitas favelas estão sendo criadas”.
05 de julho: reintegração desastrosa
A ação truculenta dos policiais e a revolta dos moradores poderiam ter sido evitadas. Um líder comunitário inflamou alguns moradores, que decidiram resistir à ação policial, afirmou Gandini. Segundo o ex-juiz, que participou da reintegração de posse, a ausência de um representante do governo municipal prejudicou as negociações.
Omissão da prefeitura
O terreno não era apenas particular, como foi divulgado pela Prefeitura de Ribeirão Preto. De acordo com o idealizador do Programa Moradia Legal João Gandini, o loteamento tem a participação do poder executivo, tanto que o processo estava em uma Vara de Fazenda Pública. “Faltou diálogo. Não sei o que a prefeitura poderia fazer. Mas, se tivesse um staf da prefeitura tentando ajudar, teria evitado a invasão”, disse Gandini.
Jardim Aeroporto
O ex-juiz João Gandini tenta entender o que acontece nas favelas instaladas no Jardim Aeroporto. “As invasões ali são mais freqüentes, mais duradouras. Percebo que ali existem entidades ligadas a movimentos populares de esquerda, que fazem trabalhos de insistência, de que o popular precisa de uma moradia. A verdade é que há interesses políticos ali. Não tenha dúvida”, comentou.